Envelhecer com saúde
“No Brasil, as respostas fáceis para o desafio do envelhecimento são erradas. É difícil equacionar, hoje, como será o futuro. Qual será o futuro da saúde e como vamos envelhecer? As pesquisas mostram que viveremos 75 anos, mas perderemos a qualidade de vida aos 65. O que faremos com os anos perdidos? Dessa forma, envelheceremos aquém da qualidade de vida. Nós queremos envelhecer, mas como podemos chegar bem? Será que poderemos nadar 1.500 metros por dia, como a Maria Lenk fez até mesmo no dia em que teve um aneurisma?”
A importância da prevenção
“Quando falamos de saúde e longevidade, podemos pensar no corpo como um carro. Só 30% dos defeitos vêm de fábrica, ou seja, são a carga genética. Os outros 70% são a manutenção, que depende da gente. O envelhecimento do corpo começa aos 28 anos. Então, por que não começamos a pensar hoje sobre como cuidar do corpo para envelhecer? Por que não cuidar desde cedo da microbiota intestinal das crianças que nascem hoje?”
Os medos da velhice
“Nós fizemos uma pesquisa com 2 mil idosos em 10 capitais e vimos que 100% dos entrevistados querem envelhecer. Mas é estarrecedor o que pensam da velhice, o medo que têm medo da solidão. Para muita gente, é uma angústia pensar no envelhecimento. As pessoas acham que não vão enxergar, acham que vão ter problemas mentais e têm medo, principalmente, da solidão. E elas têm razão: precisaremos de novos cuidadores.”
O custo das doenças
“Envelhecemos sem prevenção, sem o cuidado para envelhecer bem. Isso pesa no sistema de saúde. Afinal, quanto mais se vive, mais se gasta. O câncer, por exemplo, é uma doença prevenível, e 70% dos casos ocorrem após os 70 anos. O fator de risco para ter câncer é 11 vezes maior nos idosos; e 1 em cada 4 homens e 1 em cada 3 mulheres vai ter câncer. De 2010 a 2030, novos casos aumentarão em 50%. Uma análise dos custos do SUS mostra a importância do tratamento precoce de câncer de cólon, apontando que a prevenção reduz em 50% os gastos diretos com essa doença.”
O cuidado geriátrico
“Para nós, geriatras, o importante não é só que as pessoas envelheçam, e sim que passem por essa experiência de modo satisfatório, com autonomia, independência e qualidade de vida. A formação de geriatras não vai dar conta de atender ao envelhecimento do país. Todos os médicos, de todas as especialidades, precisam entender os problemas do envelhecer, para atender melhor às pessoas. É preciso ter uma visão holística, ouvir o idoso, o filho, o cuidador...”
Cultura do envelhecimento
“Nossos médicos ainda são formados pensando na doença, não na saúde. Ao envelhecer, queremos qualidade de vida. Precisamos alimentar uma cultura de ensinar às crianças que devemos envelhecer bem. É preciso educar todos para envelhecer melhor. Como dizia Cícero, as pessoas que são infelizes enquanto crescem são infelizes quando ficam velhas. E ninguém é tão velho que não possa viver mais um ano.”