Falar outra língua é uma maneira de conhecer não apenas uma nova cultura, mas também um outro lado da nossa personalidade. “Estudos indicam que pessoas bilíngues se veem de forma diferente dependendo da língua que estão falando. Um mexicano-americano se vê mais gentil, valoriza as relações quando descreve sua personalidade em espanhol. Em inglês, o mesmo indivíduo revela uma visão de si mais assertiva e competitiva", explica ao Nexo Nairán Ramírez-Esparza, professora-assistente de psicologia social da Universidade de Connecticut.
Alguns experimentos feitos nas últimas décadas mostram que pessoas bilíngues contam histórias diferentes de acordo com o idioma que estão falando e dão respostas diferentes à mesma questão, mudando o discurso para se adequar a cada contexto.
Um exemplo é um estudo feito em 1968 com japonesas que moravam nos Estados Unidos. Quando teve de completar a frase "quando meus desejos entram em conflito com a minha família...", a mesma pessoa disse "eu faço o que quero" em inglês e "é um momento de grande infelicidade" em japonês, por exemplo.
Estudos mais recentes realizados por Ramírez-Esparza mostram que as características da personalidade de americanos com ascendência mexicana variavam de acordo com o idioma em que se expressavam. Ao responder ao teste em inglês, eles se mostravam mais extrovertidos e amáveis do que ao falar em espanhol. Para os pesquisadores, isso pode acontecer porque a cultura americana valoriza a determinação e a afabilidade, mesmo que superficial.
Para Ramírez-Esparza, a principal hipótese para explicar essa mudança é que cada idioma carrega um valor cultural próprio. Então, quando falamos uma língua, automaticamente assumimos os valores da cultura à qual ela pertence e assumimos uma personalidade distinta.
Além disso, a nossa percepção sobre quem somos muda de acordo com o modo como as pessoas reagem quando falamos outra língua - e isso impacta a forma como projetamos o que somos, explica Carolyn McKinney, professora de língua e literatura da Universidade da Cidade do Cabo.
Para alguns pesquisadores, essa mudança de comportamento ou de traços de personalidade tem mais a ver com o ato de se comunicar com os outros do que com a língua em si. "A partir do momento em que fala com alguém, o indivíduo está participando de uma negociação da identidade", diz Bonny Norton, professor da Universidade da Columbia.