Nunca foi tão fácil nos comunicar. Temos aplicativos de mensagens instantâneas, ferramentas de reunião virtual e até assistentes de inteligência virtual. Todos esses recursos aumentaram muito nosso volume de interação, mas será que podemos dizer o mesmo da qualidade? Isso é especialmente relevante quando interagimos com familiares, amigos e colegas de trabalho.
Quando falamos de comunicação, precisamos diferenciar ouvir de escutar. Através do nosso aparelho auditivo, ouvimos o tempo todo. É um processo biológico passivo de captação de sons, ruídos e falas. Já escutar exige nossa atenção para que o cérebro processe a informação, permitindo que possamos compreender e interpretar a mensagem.
Uma boa escuta é fundamental para uma comunicação eficaz. É uma habilidade que, mais do que captar informações, ajuda a resolver problemas, compartilhar soluções e alcançar o que se deseja.
Para a jornalista norte-americana Kate Murphy “como cultura, parece que estamos perdendo a nossa capacidade de escuta”. É com essa afirmação que ela abre seu livro You're Not Listening: What You're Missing and Why It Matters”, em tradução livre: “Você Não Está Escutando: O Que Você Está Perdendo E Por Que Isso Importa”.
Em uma entrevista, a autora afirmou que no mundo em que vivemos, da tecnologia à arquitetura, tudo colabora para uma “degradação massiva da capacidade de escuta.” No entanto, há como desenvolver essa aptidão.
ESCUTA ATIVA
Em um artigo de 1957, os psicólogos norte-americanos Carl Rogers e Richard Farson criaram o termo “escuta ativa”, um conjunto de técnicas que contribuiria para a construção de relacionamentos profundos e positivos, capaz de resolver conflitos e até transformar as pessoas, tanto os ouvintes quanto os falantes.
Para eles, quando somos escutados com sensibilidade, tendemos a expressar com clareza o que estamos sentindo e pensando, tornando-nos menos reativos e mais dispostos a incorporar outros pontos de vista. Já quem escuta ativamente consegue aprender mais sobre a outra pessoa e ter uma abordagem mais construtiva na conversa.
Embora o conceito de escuta ativa, proposto por Rogers e Farson, tenha sido desenvolvido para conflitos organizacionais, seus fundamentos podem ser levados para todos os tipos de relacionamentos.
PILARES DA ESCUTA ATIVA
A escuta ativa não depende somente de atenção, mas da prática de uma série de requisitos para criar uma atmosfera de segurança, igualdade, liberdade e aceitação. Veja quais são eles:
1) Nem sempre precisamos emitir uma opinião ou dar conselhos
Segundo os autores, quando alguém compartilha um problema com a gente, nossa tendência é apresentar uma solução imediata; no entanto, nossos conselhos têm mais a ver com a nossa perspectiva de vida do que com a questão colocada. Não é fácil resistir ao impulso de aconselhar, já que, muitas vezes, o interlocutor pede nossa opinião, mas pelos princípios da escuta ativa, o ideal é buscar entender como a pessoa está pensando e se sentindo para, então, oferecer apoio.
2) Observe a comunicação não-verbal
Nem só as palavras transmitem uma mensagem. O tom da voz, a entonação, o movimento das mãos e a expressão facial podem até contradizer o que está sendo dito. Precisamos incorporar esses sinais à nossa escuta, responder e agir de acordo com eles.
3) Reformule a ideia dos outros
Às vezes, precisamos checar se realmente entendemos o ponto de vista ou a ideia de outra pessoa. Nesse caso, é útil reformular o que foi dito em voz alta para verificar com o nosso interlocutor se a mensagem foi compreendida.
4) Demonstre interesse e respeito
Lembre-se sempre de demonstrar e dizer à pessoa que está sendo escutada que você respeita o pensamento dela, mesmo que não concorde. Diga ao seu interlocutor que você acredita que ele tem algo a contribuir e que ele pode confiar em você para discutir suas ideias.
5) A “escuta ativa” gera um efeito dominó
Os criadores da técnica acreditavam ainda que, assim como um comportamento raivoso tende a ser retribuído da mesma maneira, quando se pratica a escuta ativa, a outra pessoa tende a nos ouvir com o mesmo cuidado.
Ou seja, se o interlocutor perceber que estamos sinceramente interessados em resolver uma questão e estabelecer uma relação construtiva, ele vai seguir o mesmo caminho.
6) Ouvir de verdade transforma relações
A escuta ativa é uma ferramenta poderosa para criar relações mais humanas, profundas e respeitosas. Ela nos convida a prestar mais atenção na qualidade das nossas interações para criarmos conexões mais genuínas.
Que tal colocar a técnica em prática hoje mesmo e ver como uma escuta de qualidade pode melhorar nossos relacionamentos — você vai se surpreender com os resultados.