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Como fazer um planejamento financeiro a longo prazo

Você é do time que diz "só se vive uma vez"? Sim, é verdade, mas pode ser que se viva por muito tempo. Aprenda como você pode financiar a vida longeva.

Como fazer um planejamento financeiro a longo prazo

Quando se fala sobre planejamento financeiro, pode vir à mente uma pessoa fazendo contas enquanto pensa na realização de um sonho: uma viagem bacana, uma especialização, a compra de um carro, de uma casa ou simplesmente dar um basta nas dívidas.

Geralmente é assim mesmo que a gente pensa: montar um plano para um objetivo de curta ou média duração ou então para organizar a vida financeira (para justamente dar voos mais altos). Mas e quando são planos de longa duração, como o financiamento da nossa longevidade?

O envelhecimento é um processo natural e inevitável. E estamos cada vez mais vivendo mais. A última estimativa sobre a expectativa de vida do brasileiro é de 76,6 anos. Segundo o IBGE, quem tinha 30 anos em 2020 viverá quase 50 anos a mais (48,9 para ser bem preciso).

Como você vai sustentar essas quase cinco décadas a mais?

Se você está nessa faixa etária (entre os 25, 35 anos), a boa notícia é que o tempo joga a seu favor. A, digamos, má notícia, é que você precisará passar por um bom processo de “autoconvencimento” de que o futuro precisa começar a ser planejado agora — o que inclui tomada de ações a favor desse grande plano.

Se você já é mais velho e resolveu só agora dar a devida atenção a isso, tudo bem. Vai ser mais difícil, mas nunca é tarde demais para começar!

“Existem dois caminhos para se pensar no futuro financeiro”, explica Eduardo Becker, professor de mercado financeiro da Saint Paul Escola de Negócios. “Ou você junta um montão de dinheiro e, lá na frente, tira uma parte para poder viver, ou você cria uma carteira [de investimentos] previdenciária, que lhe gere renda.”

Qual caminho tomar, obviamente, vai depender das suas vontades, preferências e condições financeiras. Não existe muito bem um certo ou errado. O que é preciso mesmo, como você vai ver na entrevista com o especialista a seguir, é uma boa mistura de mudança de cultura, educação financeira e disciplina.

Viva a Longevidade: Como é que a gente consegue mudar a cultura de que é preciso olhar também para frente, quando estamos falando de planejamento financeiro?

Eduardo Becker: Eu costumo ajudar as pessoas a fazer essa reflexão com uma pergunta:  se você está trabalhando e acontece algo que te impeça de trabalhar para o resto da vida, quanto tempo dura o seu dinheiro? Nesse momento, as pessoas percebem que a vida está sujeita a mudanças e que não foram prudentes na hora de juntar o dinheiro para quando pararem de trabalhar.

VL: Para quem já tem essa noção, quais são os conceitos e ferramentas necessários para realizar um planejamento financeiro a longo prazo?

EB: Ferramentas como planilhas são importantes, porque aquilo que não é medido não é possível de ser controlado. Mas isso não é decisivo. A grande mudança está na mentalidade, entender como funciona o dinheiro. Nas finanças, o que conta não é somente o que você faz, mas como você pensa.

No livro Pai rico, pai pobre, o autor Robert Kiyonsaki traz dois conceitos que ajudam as pessoas a controlarem o que fazem com o seu dinheiro e a entender como ele funciona: “ativo” e “passivo”.

Na obra, “ativo” é tudo aquilo que você compra e, no mês seguinte, vem mais dinheiro para você sem que tenha trabalhado por ele. Já “passivo” é tudo aquilo que, no mês seguinte, vem algo para você pagar. É claro que não é preciso parar de viver, parar de fazer as coisas, mas é preciso diminuir a compra de “passivos” enquanto você está acumulando, pois isso retarda a sua meta financeira.

É assim que funcionam o dinheiro e o planejamento a longo prazo: gastar mais com os ativos, as coisas que te fazem ganhar dinheiro para que, com esse lucro, você reinvestir na compra de mais “ativos”.

VL: É possível viver o presente e, ao mesmo tempo, pensar na vida futura?

EB: Para a maioria das pessoas, o dinheiro é finito. Então será preciso abrir mão do consumo imediato a favor de um futuro, que é incerto. Não sabemos quanto vamos viver, mas é bom poupar porque vai que você vive 100 anos.

Pegue uma parte da sua renda e separe para o você do futuro. Junte e vá fazendo crescer a bola de neve. Em 15, 20 anos você já tem uma renda passiva, quem sabe o suficiente para te sustentar.

Se você é mais velho, não desanime porque dá tempo. Se começar aos 60 anos, talvez a renda extra não te sustente completamente, mas será uma boa complementação à aposentadoria. Então, sempre é bom começar.

VL: E quais são os passos e etapas para cumprir esse planejamento financeiro a longo prazo?

EB: Não há uma receita que sirva para todo mundo, porque a vida das pessoas é diferente e as necessidades financeiras mudam ao longo da vida. Mas, em linhas gerais, temos:

Passo 1: Mude a mentalidade e entenda o funcionamento do dinheiro.

Passo 2: Pague suas dívidas e procure não fazer mais esse tipo de despesa.

Passo 3: Faça uma reserva de emergência, uma vez que não estamos livre de acidentes.

Passo 4: Eduque-se para os investimentos, ou seja, aprenda sobre os investimentos para conseguir levar o seu dinheiro para o futuro.

Passo 5: Tenha foco e disciplina. É a coisa mais importante que você precisa fazer para a vida. Não seria diferente para as finanças.

Passo 6: Reveja o seu planejamento financeiro sempre que mudar a sua fase de vida, por exemplo, quando você se casa, se separa, ou tem filhos, ou vê os filhos irem embora, ou precisa cuidar dos seus pais... e por aí vai.

VL: E o que não deve ser feito em um planejamento financeiro a longo prazo?

EB: Se você traçou um plano, comprometa-se com ele até revê-lo. Se acontecer algo, use a reserva de emergência para se salvar. Outra coisa: não pare de alocar recursos, se assim a situação permitir. Ou seja, se a renda diminuir ou acabar, eleja as suas prioridades. Eu falo sobre não parar de alocar recursos pois, muitas vezes, a pessoa desiste por não ver resultado a curto prazo e resolve gastar o que juntou em um “passivo”. E aí, quando ela chega aos 60 anos, olha para trás e lamenta porque não teve outra atitude.

VL: Quem tem pouca renda consegue planejar o futuro?

EB: Sim. É exatamente a mesma lógica. O mecanismo que fará a pessoa de menor renda ter, digamos, R$ 5 mil por mês, é o mesmo de quem hoje ganha R$ 5 mil e quer ter uma renda de R$ 50 mil lá na frente. Não quer dizer que seja fácil e rápido. Veja, a pessoa muito pobre gasta muito com alimentação. O fato de a comida representar um custo muito alto dessa cesta de consumo faz com que os mais pobres se sacrifiquem mais para se qualificar para melhorar a renda ou tenham de trabalhar no fim de semana para aumentá-la.

VL: Por que se planejar a longo prazo é importante?

EB: Porque ninguém sabe o que vai acontecer. Não temos controle. É importante se preparar para o futuro porque ele é incerto. Amanhã, as 12h15 algo pode acontecer: você pode encontrar o amor da sua vida, receber uma proposta de emprego novo, ficar desempregado, receber uma promoção, mudar de cidade ou país... então é melhor estar prevenido. Não é preciso parar de viver em nome disso, mas você tem de se preparar.

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